“O Soberano Mercado”, segundo Romildo Júnior

16-03-2017 15:58:15 Por: Romildo Antonio Andrade Júnior

“O Soberano Mercado”, segundo Romildo Júnior
Morava numa cidade produtora de café e até os 20 (vinte) anos de idade, mesmo sem conhecer muito “o que é mercado”, um fato era interessante: “Na época da panha do café” (como se dizia lá em Iúna/ES), onde na madrugada gelada, saiam inúmeros caminhões de boias-frias para as lavouras, enquanto o comércio da cidade fazia festas, os produtores reclamavam que o preço do Café tinha caído muito, e cresci ouvindo essa reclamação (na Safra, na hora de ganhar um dinheirinho o preço cai demais...). E, no final do ano, quem tinha café estocado, era só alegria, pois, “O preço do café subia muito”.

Então: aprendi, como todo cidadão Iunense que Safra = preço baixo do Café e Entressafra = Preço alto.

Trazendo essa história para o Leite: Onde comecei há exatos 21 anos.

Há 21 (vinte e um) anos atrás o Brasil era um “grande importador” de leite, mas, mesmo assim, tínhamos um período de “Formação de Cota”, que ia de Abril a Setembro, e entre outubro e fevereiro do ano seguinte, as empresas consideravam a cota formada e o excedente, era pago ao produtor como Extra Cota (Isso já deu o que falar em leite). Observe que o Brasil era um “grande importador de leite”, ou seja, “a produção interna, não abastecia nosso mercado” e mesmo assim, o preço variava muito entre safra e entressafra. Mesmo na safra, o País importava muito leite. Posso arriscar em dizer que era mais uma teoria de mercado aplicada (Safra o preço cai e entressafra o preço sobe), como dizia Joelmir Betting “Produto Escasso, Preço no Espaço”, do que uma necessidade de queda de preços (ou, as indústrias na maioria das vezes, não tinha capacidade de produzir/comercializar o leite produzido na safra).

Bem, o País cresceu, a produção de leite mais ainda, várias indústrias surgiram, e de 10 (dez) anos pra cá, o Grande importador passou a ser um “Potencial de exportação”. E olha que fato interessante: “A formação de cota acabou, o pagamento de extra cota também”. Mas, os preços variavam muito da Safra para entressafra.

Nos últimos 5 (cinco) anos, observamos outra mudança: “Os preços na Safra não estava caindo muito”. E, na entressafra as indústrias não tinham competitividade para “pagar” os preços oferecidos aos produtores por outras indústrias, mas, para não perder o leite, acabava pagando tal preço (mesmo, perdendo dinheiro). As indústrias passaram a trabalhar com o seguinte lema: “Já que não posso com os ventos, o melhor é ajustar as velas”.

Chegou 2013. “Que ano maravilhoso! - Tudo que se pede o mercado paga! - Não tem leite! - O Leite vai chegar a R$ 1,50! – Safra do sul, não afeta o nosso mercado! - O leite mudou de patamar, etc, etc, etc”.

Essas e outras frases foram repetidas milhares de vezes, por produtores, indústrias, cooperativas, governantes, entre outros. As indústrias de queijos, estavam mais cautelosas e até mesmo assustadas com tamanha agressividade do mercado (principalmente Leite Longa Vida).

Como cautela e canja de galinha não faz mal a ninguém, por várias vezes em 2013, alertava que “teríamos a maior safra da história”! E tivemos. O Preço de leite no mercado Spot caiu numa velocidade de Fórmula 1, e os preços aos produtores em velocidade de fusca, (Os vendedores de spot, pagaram a conta sozinhos – O spot caiu de R$ 1,40 para R$ 0,80).

Na minha pouca experiência, previa um 2014 como o ano mais organizado para a produção de leite, pois, 2013 permitiu essa organização por partes dos produtores. Organização essa abalada pelo forte veranico no início do ano. Será?

Bem: os números ainda não mostraram esse efeito. 2014 está com produção superior a 2013, os preços de compra de leite superior a 2013, os preços de venda inferiores a 2013, e a safra do sul promete um boa produção.

Resultado:

“Os preços aos produtores, tendem a ter uma queda em pleno Maio/2014".

Lembrando que o mercado de leite Spot teve queda superior a R$ 0,15 entre Abril e maio/14.

Voltando ao início da matéria:

O Mercado tem sua história, seu histórico e suas regras. O Mercado é soberano”!

Na minha humilde visão, nós indústrias e produtores tentamos por vários motivos (que não cabe aqui relatar), lutar contra esse Soberano Mercado. E, agora teremos que tomar atitudes drásticas, prejudicando e desgastando toda a cadeia.

Podemos até ser “candidatos a Gênios”. Tentar prever e acertar o futuro, mas, temos que conhecer e acreditar um pouco no passado.