Manejo racional projeta novas perspectivas no Norte de Minas
15-06-2022 09:44:04 Por: Ricardo Guimarães, Faemg. Foto: Divulgação, Faemg
Gado agitado, correria e gritos dos vaqueiros na tentativa de guiar os animais para dentro do curral. Essas são situações que estão com os dias contados, ao menos se depender dos alunos do curso de Manejo Racional e Bem-Estar Animal/Bovinos, ministrado em Janaúba, em parceria com o Sindicato Rural. Durante uma semana, os participantes tiveram acesso a novas metodologias de manejo que visam o bem-estar dos animais e a maior segurança dos trabalhadores rurais. O objetivo é mudar uma cultura que está enraizada em muitas famílias rurais do Norte de Minas.
“Aqui no Norte de Minas a cultura do manejo racional ainda está em desenvolvimento, é uma área a ser desbravada. Ainda existe muito a cultura da violência e da correria. Aqui ainda precisamos quebrar alguns paradigmas, como ter que manejar só a cavalo e que é difícil fazer este trabalho sem agressão, sem uso de ferrão, etc. No curso, inicialmente os alunos realmente não acreditavam que existiam outras possibilidades de trabalhar, que não fosse com violência. Aos poucos viram que era possível e evoluíram muito rápido”, explicou a instrutora Flaviane Afonso Ferreira.
Este foi o terceiro curso de manejo racional realizado pela regional de Montes Claros do Sistema FAEMG nos últimos dois anos, totalizando mais de 30 produtores capacitados dentro das novas metodologias de trabalho. Aos poucos a prática vem ganhando mais adeptos. Segundo a instrutora do curso, o resultado dessa nova forma de trabalho pode ser visto na prática e nos resultados financeiros dos produtores rurais.
“O bem-estar animal traz diversos benefícios para a produção, tanto de leite quanto corte. Esse manejo racional gera, por exemplo, o aumento na produção de leite, aumento de rendimento de carcaça, desmama mais precoce, melhora eficiência reprodutiva e consequentemente traz benefícios financeiros ao produtor rural. Quando o animal atinge pico de estresse, com o hormônio cortisol alto, reduz a produção de leite. A vaca estressada come menos, reduz a sua eficiência alimentar, e pode aumentar a incidência de doenças. É um efeito dominó. Um simples hormônio vai fazer toda uma alteração fisiológica no animal. No caso do corte, se o animal estiver estressado ele vai correr muito dentro do curral, aumentando a chance de o cuidador ser mais agressivo e isso vai causando hematomas. Quanto mais hematomas menor rendimento”, afirmou Flaviane Afonso.
Técnicas que fazem a diferença - Várias técnicas são apresentadas ao longo do curso, onde a instrutora coloca os alunos diante de situações que podem acontecer no dia a dia da fazenda. Muitas práticas, olhando de fora do curral, nem parecem ser de um vaqueiro fazendo manejo de animais. Nesta nova perspectiva de trabalho, impera a calma, pouco uso de cavalos ou objetos que possam assustar o gado. “O curso é um self-service de técnicas que ensino aos alunos e eles vão usando de acordo com a necessidade do dia a dia. Vimos, entre outros, dessensibilização da maternidade; manejo sem nada nas mãos; retirada dos pontos extração; aclimatação e condução racional dos bovinos. São técnicas que mostro para acalmar o gado e com manejo mais fácil, evitando acidentes na fazenda. O bovino é um animal extremamente responsivo. Se chego violento ele vai responder da mesma maneira”, destacou a instrutora.
Segundo Flaviane, não é incomum chegar para ministrar o curso em cidades com casos de acidentes ou até mesmo morte de vaqueiros por conta de incidentes com animais durante o trato na fazenda. O produtor rural da pecuária de corte Fernando Henrique Ribeiro Júnior, um dos alunos em Janaúba, conviveu com este perigo de perto. Isso porque seu avô já foi prensado no curral por uma vaca, precisando ser socorrido e ficando com uma marca de 24 pontos no abdômen. O jovem, de 29 anos, se surpreendeu em ver novos métodos de atuar na atividade, que está na família há muitos anos.
“Absorvi muitas coisas boas. Vi muitas diferenças dos métodos que são mais comuns aqui na região, dos nossos antepassados. Aprendemos a separar o gado a pé, sem gritaria, sem violência, respeitando e passando mais tranquilidade aos animais. Vi a facilidade ao longo do curso em adotar essa técnica, até para entender o animal e a maneira de lidar. Até em relação a não colocar tantos animais no espaço de trabalho, foi algo que nos chamou a atenção e vimos a diferença de manejo”, afirmou Fernando Henrique.
Em se tratando de fixar novos conhecimentos, Dionatan Marcos, mesmo não atuando no momento na área, fez questão de se inscrever no treinamento. Acadêmico do sexto período de Zootecnia e filho de produtores rurais, ele viu na prática muitos dos conceitos trabalhados cientificamente em sala de aula. “O objetivo é de aprimorar, já garantir no currículo uma nova técnica e olhar para o segmento. Como atuarei na área futuramente, espero repassar estes conteúdos, essa nova metodologia, para meus assessorados. Cresci no meio rural e vejo a diferença como era o trato antigamente e como hoje precisa ser feito. Com este novo olhar para o manejo a gente vê que tem melhor aproveitamento do desempenho dia a dia”, destacou o aluno.
Rotina - Apesar da semana intensa desbravando novos conhecimentos, a prática diária fará a grande diferença para estes alunos. Segundo Flaviane Afonso, é preciso que eles apliquem as técnicas diariamente e instruam os demais colegas. “Este treinamento foi de prevenção e conscientização, sendo muito gratificante ver o interesse dos profissionais em melhorar, dispostos a aprender. O manejo é um treinamento comportamental. Trabalhamos as emoções do manejador. Explico a eles o quanto entrar no curral estressado vai afetar o trabalho, porque o hormônio do estresse exala um cheiro que o animal percebe, e assim o gado também fica estressado. A ideia é que isso vire parte da rotina, todos os dias pratiquem”, finalizou a instrutora.
As informações são do Sistema Faemg.