Produtores estão cautelosos, mas retomada pode demorar
18-08-2022 09:52:35 Por: FAEMG. Foto: Alcides Okubo Filho, Embrapa
A alta dos preços do leite tem refletido nas relações de consumo e tornou-se um dos assuntos mais comentados do segmento e na imprensa nos últimos meses. Um impacto que chega não só ao produtor, mas também compromete a nutrição dos brasileiros. Em alguns estados, o preço do litro de leite praticado nos supermercados ultrapassou os R$ 9.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a Guerra na Ucrânia, a extensão do período de entressafra, devido ao clima seco e a ausência de chuvas, somada ao aumento do custo de produção (medicamentos e alimentação) e à maior demanda por parte das indústrias de laticínios foram alguns dos fatores que seguiram elevando o preço do leite e derivados no varejo.
Em Pompéu, de acordo com o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade, Paulo Lino, os produtores já vinham enfrentando alguns desafios, principalmente de 2020 para cá, período em que passaram por uma seca brusca e, também, por um período chuvoso, com prejuízos aos pastos e lavouras. “As instabilidades nos levam a regredir em produção e patrimônio, já que o valor pago ao produtor não acompanha esse movimento de aumento do produto no varejo”.
“Sou produtor desde menino. Eu amo e acredito no segmento do leite. Fazemos parte de um grupo que coloca alimento na mesa. O conselho que deixo é que tenhamos sempre cautela nas negociações, pés no chão e muita anotação. Afinal, somos uma empresa”, completou.
Insegurança - A atividade leiteira é fundamental para a subsistência e sustentabilidade das propriedades agrícolas familiares mineiras e de todo o país, seja na geração e complementação de renda ou no consumo diário. Na opinião de Thiago Guimarães, também produtor e presidente do Sindicato Rural de Curvelo, o mercado começou a reagir, mas ainda está aquém se comparado aos custos de produção. “Conseguimos dar uma respirada. Todo negócio tem seus altos e baixos, mas temos que trabalhar da melhor maneira possível da porteira para dentro e sermos mais comerciais da porteira para fora”, completou.
O presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite, do Sistema FAEMG, Jônadan Ma, explica que o momento do setor é algo nunca visto na história recente da produção leiteira. Os prejuízos que levaram à atual redução da captação de leite em mais de 10% começaram em 2020 e se agravaram em 2021. Com isso, as indústrias começaram a competir pelo leite disponível no mercado, o que culminou na alta nas gôndolas do supermercado – que não se refletiram em mais ganho para o produtor.
“O repasse ao produtor foi muito pequeno frente às margens conquistadas pelas indústrias, atacado e varejo, então o pecuarista ainda está bastante reticente em retomar o nível de produção. É preciso que a cadeia entre em um equilíbrio mais justo – não queremos que o consumidor pague caro pelo produto, pois isso já reflete na capacidade de compra dele com a elevação da inflação; mas também não queremos que o produtor continue amargando prejuízos”, analisa.
Retomada - Jônadan Ma ainda alerta para a necessidade de ponderação: não adianta aproveitar a alta de preços para o consumidor, sendo que o produtor ainda não está sendo bem remunerado. “Acreditamos que ainda vai levar um tempo para a oferta de leite no mercado se reestabelecer, pois o produtor precisa se sentir animado e seguro para retomar o nível de produção. Sem isso, vai ser difícil ele voltar e equilibrar essa oferta, e o desequilíbrio da oferta vai continuar afetando toda a cadeia láctea”, finaliza.
As informações são do Sistema Faemg.