Investimentos na capacidade de suporte das áreas de pastagens trazem benefícios aos pecuaristas
16-08-2023 14:09:10 Por: Cepea. Foto: Renata Silva/Embrapa
A maior parte da bovinocultura nacional é realizada baseada em áreas de pastagens, fato que, ao mesmo tempo que configura uma grande vantagem competitiva para a cadeia, também representa um importante gargalo produtivo. De modo geral, em termos de custos, sistemas produtivos bem ajustados e baseados em pastagens permitem um produto final comercializado mais barato ao produtor, o que garante ao Brasil uma posição de destaque na produção mundial de carne bovina a um nível competitivo. Porém, muitas vezes, devido à falta de cuidado e de investimentos realizados nas pastagens, essas mesmas áreas acabam se tornando gargalos produtivos, limitando, assim, a capacidade da atividade em gerar caixa e, consequentemente, a rentabilidade dos produtores.
Sistemas nacionais mais extensivos, aqueles com baixo investimento na atividade, são comumente encontrados na pecuária nacional. A baixa escala produtiva e a limitante capacidade dos mesmos em diluir seus gastos fixos e aumentar sua competitividade, também são encontrados nesses sistemas. Esse cenário faz com que produtores fiquem mais sensíveis a variações de preços no mercado do boi, já que esses pecuaristas não possuem uma escala produtiva que gere mínima estabilidade de produção, o que resulta em anos muito positivos e outros negativos – comprometendo a saúde e a longevidade do sistema a médio-longo prazo.
O planejamento da intensificação de qualquer área produtiva deve ser realizado por meio de estudos e acompanhamento de técnicos qualificados, visando a correta identificação de quais tecnologias devem ser adotadas por determinados sistemas produtivos, buscando sua máxima eficiência. A compra de insumos, como fertilizantes e corretivos, se realizada anteriormente aos meses chuvosos se torna uma importante estratégia durante o processo de intensificação, garantindo assim que menores valores sejam conseguidos pelo produtor.
O atual período de entressafra, acompanhado pela queda observada nos últimos meses dos preços dos insumos direcionados as pastagens, reflete um momento oportuno. O Projeto Campo Futuro, iniciativa do sistema CNA/Senar, em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, simulou um cenário de otimização do uso dos recursos forrageiros, com base em uma propriedade típica amostrada. A análise tem por objetivo exemplificar como melhorias no planejamento forrageiro e no manejo de pastagens poderiam impactar positivamente os resultados financeiros da pecuária de corte.
A presente análise tomou por base o sistema de Recria de Santa Vitória/MG, caracterizado na ocasião do levantamento como uma propriedade típica extensiva, com índices produtivos e zootécnicos com espaço para melhora. O sistema modal contava com uma área de pastagem, em que todos os animais ficavam em recria por 12 meses, havendo somente o fornecimento de um sal proteinado durante os seis meses de seca. A propriedade realizava baixos investimentos na formação e manutenção de suas pastagens, o que resultava em uma taxa de lotação abaixo da média nacional.
Da forma como o sistema tem sido conduzido nessa propriedade típica, o produtor consegue arcar com os desembolsos anuais da atividade (COE), ficando praticamente empatado quando o assunto é o reinvestimento na mesma, conseguindo, com grande dificuldade e dependência do mercado do boi, reformar suas benfeitorias, máquinas, implementos, e equipamentos, ao final de sua vida útil (COT).
Desta forma, observa-se que alterações produtivas precisam ser realizadas para que ocorra uma otimização do sistema produtivo, visto que a utilização mais extensiva das áreas de pastagem disponíveis para produção no sistema avaliado contribui para sua baixa eficiência produtiva, impactando especialmente no rendimento por área. É importante lembrar que toda alteração e melhoria produtiva deve passar por um período prévio de estudo e análise, acompanhado sempre por técnicos qualificados, para que as melhores soluções sejam encontradas especialmente para a propriedade em questão, otimizando, assim, seu sistema.
Para fins de exemplo, estimou-se o impacto da intensificação produtiva em 25% da área de pastagem da propriedade, equivalente a 55,6 ha – a propriedade típica de Santa Vitória já havia esse percentual da área destinado para o cultivo com capins do gênero Panicum, porém, não havia um maior piqueteamento ou manejo diferenciado nessa área, em comparação com o restante da área de pasto de Marandú. Com o objetivo de ao mesmo tempo, se elevar a capacidade de suporte local e estimular o pousio e recuperação das áreas de pastagem mais extensivas, serão concentrados nesta área os investimentos em fertilidade do solo, além de maior subdivisão.
Estima-se um custo médio de R$ 6.500,00/km de cerca elétrica construída, considerando-se todos os insumos e mão de obra necessária para instalação. Assumindo-se uma vida útil de 10 anos para o sistema, tem-se um custo médio de R$95,47/ha ano para amortização do investimento inicial. Já o aporte anual com insumos para a manutenção da área de rotacionado foi calculado visando o aumento da produtividade obtida na área de manejo intensivo, acompanhado por uma elevação na taxa de lotação, para 1,1 UA/ha na área total, com um custo estimado em R$ 1.894,36/ha ano – considerando-se adubação de manutenção, além do gasto com hora máquina.
Toda a análise foi desenvolvida com base na demanda extra de Matéria Seca que o sistema sofreria para se elevar a taxa de lotação, e, então, foram calculadas as quantidades de adubos utilizados para que tal produção fosse atingida nessa área de rotacionado. Todos os valores utilizados para a simulação – de ureia, KCl, supersimples, hora máquina, compra de reposição, e venda de animais – foram atualizados com base nas cotações do Cepea de julho de 2023.
Realizando, então, o ajuste no sistema produtivo, com a compra adicional de 175 bezerros desmamados, e a implementação desse manejo rotacionado nessa área de Panicum, tem-se que o resultado direto à nova capacidade de suporte é refletido especialmente no aumento das margens, em que a Margem Bruta da atividade subiu mais de 50%, e a Margem Líquida mais de quarenta vezes. Para fins de análise, também foram considerados os gastos adicionais resultantes desse maior número de animais da propriedade, com novos aportes para a suplementação e manejo sanitário.
Desconsiderando-se outras alterações à estrutura e manejo da propriedade, focando, então, apenas na maior taxa de lotação, por meio dos resultados obtidos fica evidente que a intensificação do uso das pastagens, e, consequentemente, da sua produtividade, é capaz de trazer resultados positivos ao bolso do produtor – mesmo quando o dispêndio é focado em apenas parte da área útil da propriedade. Como resultado, seria possível assegurar uma maior perenidade no sistema produtivo analisado, em que a remuneração original praticamente não era suficiente para que o sistema conseguisse pagar seus custos de depreciação. Além disso, o manejo mais intensivo dos pastos na propriedade permitiria que a margem líquida passasse por um aumento de mais de quarenta vezes, além de garantir ao sistema uma lucratividade (ML/RB) de 3,64% – contra 0,15% no sistema original.
O aumento da escala produtiva traz benefícios ao sistema ao considerar o novo montante de caixa gerado pela atividade por área útil, fato este que acontece mesmo quando o mercado do boi está mais desvalorizado, como o atual. Assim, esse incremento na taxa de lotação é capaz de beneficiar o produtor, ao manter uma certa estabilidade na produção e na remuneração por área produtiva, evitando que oscilações do mercado de boi atinjam a atividade com grande intensidade, como quando comparados à situação original de baixa produção por área.
Para que ocorra uma intensificação no manejo das áreas de pastagens das propriedades, é necessário realizar previamente um planejamento estratégico, assim como um treinamento e qualificação da mão de obra envolvida na atividade. É recomendado que essa medida seja incrementada aos poucos, e em áreas menores no início, e por isso a simulação foi realizada em somente 25% da área total de pastagem da propriedade em questão. A compra antecipada dos adubos se faz muito vantajosa para esses sistemas, especialmente em meses de entressafra, em que a demanda nacional está baixa, o que mantém os preços em patamares mais confortáveis. Por fim, tal intensificação das áreas produtivas é capaz, sim, de trazer benefícios de médio a longo prazos na propriedade, visto que afeta diretamente a escala produtiva, gerando, assim, uma receita maior, e diluindo os custos fixos do sistema.
É possível concluir então, que o maior aproveitamento dos recursos forrageiros é capaz de diluir os custos fixos do sistema, auxiliando, assim, em sua otimização. Destaca-se, aqui, porém, que, além da reduzida capacidade de suporte do sistema avaliado, outros pontos também devem ser analisados e melhorados, permanecendo a intensificação das pastagens como apenas um dos itens a serem otimizados, de forma a garantir os bons desempenhos técnico e econômico da propriedade.
As informações são do Cepea.