Enchentes no RS repercutem no preço do arroz, soja e leite, indica Boletim Agropecuário de maio

23-05-2024 14:44:10 Por: Por Marcionize Bavaresco, jornalista bolsista na Epagri/Cepa

Enchentes no RS repercutem no preço do arroz, soja e leite, indica Boletim Agropecuário de maio
O mercado começa a repercutir os problemas ocasionados pelas enchentes no Rio Grande do Sul em algumas cadeias produtivas da agropecuária. O Estado é o maior produtor de arroz, o segundo maior produtor de soja e o terceiro maior produtor de leite do país. Nesses produtos, o impacto dos prejuízos, ainda não contabilizados na totalidade, influenciou o aumento dos preços pagos aos produtores ou no atacado. As informações constam no Boletim Agropecuário do mês de maio. A publicação mensal, do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), reúne informações conjunturais de alguns dos principais produtos agropecuários de Santa Catarina.

Outras cadeias também poderão ser impactadas, a exemplo das carnes. A extensão disso depende, especialmente, do tempo necessário para o reestabelecimento de condições de escoamento da produção no estado gaúcho. Já o milho, embora tenha registrado perdas com as enchentes, não teve oscilações significativas de preço, principalmente porque boas safras de outras regiões produtoras têm mantido a oferta estável. O Boletim Agropecuário pode ser acessado no site do Observatório Agro Catarinense, da Epagri, e da Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária (SAR).

Arroz - Em Santa Catarina, os preços do arroz em casca, que até o mês de abril mantiveram uma trajetória decrescente, esperada para o período em virtude do avanço da colheita e comercialização no Estado, tiveram valorização na primeira quinzena de maio. Conforme a analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural, Glaucia Padrão, esse comportamento foi influenciado pela enchente prolongada no Rio Grande do Sul, o que fez com que a média estadual do preço mais comum ultrapassasse, novamente, a marca de R$100,00 a saca de 50kg, uma elevação de 3% na comparação com a média do mês de abril.

A analista explica que, embora mais de 80% da área semeada de arroz, no Rio Grande do Sul, tenha sido colhida, as incertezas quanto ao percentual de perdas do que ainda está a campo ou mesmo armazenado nas indústrias deve manter o mercado aquecido.

Em Santa Catarina, estima-se que a safra de arroz 2023/24 terá uma diminuição de 8,11% na produção em relação à safra anterior. Os motivos são a redução da área plantada (aproximadamente 0,9%) e problemas climáticos que afetaram a produtividade. Com isso, a produção estimada até o momento, no Estado, é de 1,16 milhão de toneladas. Até o momento, 99% da área plantada foi colhida e restam apenas áreas de soca no Litoral Norte.

Com uma safra menor, as importações de arroz têm se destacado e devem ser ampliadas nos próximos meses. Entre janeiro e abril, Santa Catarina importou cerca de US$11,2 milhões em arroz e derivados, o que representa uma variação de 160,97% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Soja - Em abril, os preços pagos aos produtores catarinenses pela soja em grão retomaram as cotações do início do ano, após recuo em fevereiro e março. Em abril, o valor médio mensal ficou em R$117,25 a saca de 60kg, um acréscimo de 5,8% em relação ao mês anterior. No entanto, na comparação com março de 2023, a queda nas cotações registrou 12,9%. Os preços foram influenciados pela expectativa de uma boa safra nos Estados Unidos (Bolsa de Chicago) e da recuperação da safra da Argentina.

Conforme o analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Haroldo Tavares Elias, o aumento nos preços, registrado em abril e no começo de maio, foi influenciado por uma série de fatores: o aumento da demanda interna e das negociações de soja no mercado brasileiro, impulsionadas pela valorização do dólar em relação ao real, o que torna as commodities brasileiras atrativas no mercado internacional; o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul na qualidade das lavouras que permaneciam a campo antes das enchentes (cerca de 22%); rumores de uma possível greve na Argentina, que é o principal país exportador de farelo de soja; o aumento da demanda externa e interna pelos derivados de soja brasileiros (óleo e farelo).

Leite - O preço do leite, pago ao produtor catarinense em maio, teve o sexto mês seguido de crescimento e, levando-se em consideração a movimentação do mercado do leite ‘spot’ (comercializando entre indústrias) e UHT (longa vida), deve seguir a trajetória de alta. Conforme o analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Tabajara Marcondes, um dos fatores que indicam a manutenção dos aumentos são as enchentes no Rio Grande do Sul, estado que responde por cerca 13% do leite cru adquirido pelas indústrias inspecionadas no Brasil e com importante participação no mercado interestadual de leite e derivados.

O analista afirma que apenas após a superação do período mais crítico e com levantamentos mais precisos sobre as consequências das inundações será possível realizar projeções mais qualificadas sobre a produção leiteira nacional em 2024. “De qualquer maneira, já é fato que o mercado mudou completamente em relação ao final de abril e primeiros dias de maio, com elevação significativa nos preços do “leite spot” e leite UHT, o que deve se estender para outros produtos”, diz.

A média do preço mais comum pago aos produtores catarinenses das principais regiões produtoras, em maio, ficou em R$ 2,41, alta de aproximadamente 3,5% em relação ao mês anterior. Os dados são levantados pela Epagri/Cepa.

Milho - O Boletim Agropecuário de maio confirma a redução da produção total de milho em Santa Catarina. A estimativa atual aponta para uma produção de 2,26 milhões de toneladas, o que representa um decréscimo de 21,8% em relação à safra anterior. As condições climáticas do início da safra impactaram no potencial produtivo. Atualmente, cerca de 92% da área plantada estimada foi colhida. Em relação ao mercado, os preços do milho apresentaram um recuo de 6,6% entre de janeiro e março de 2024. Nos últimos 30 dias a redução foi de 0,3%. No entanto, nos primeiros 15 dias de maio os preços reagiram no Estado, com um crescimento de 3,7%. O consumo do cereal em elevação no Brasil (rações e etanol) e a menor produção nacional na safra 2023/24 devem afetar o balanço entre oferta e demanda. No cenário internacional, foi reportada uma redução de 10 milhões de toneladas na safra mundial de 2024/25. Neste contexto, a tendência, no médio prazo, é de recuperação dos preços no mercado interno e externo.

Feijão - No mês de abril, os preços recebidos pelos produtores catarinenses de feijão-carioca tiveram uma desvalorização de quase 20% na comparação com o mês anterior. O preço médio estadual passou de R$ 226,10 para R$180,97 por saca de 60 kg. Já para o feijão-preto, o preço médio pago aos produtores teve um recuo de 35,5% em relação ao mês anterior, passando de R$310,00 para R$ 199,94 por saca de 60kg. Até a primeira quinzena de maio, as perdas da safra de feijão gaúcho não se refletiram no mercado. Isso ocorreu, principalmente, devido ao aumento da área de feijão-preto de segunda safra no Paraná. A safra catarinense de feijão (somada a primeira e a segunda safra) deve chegar a 117 mil toneladas, 2,82% a mais do que na safra anterior.

Trigo - Em abril, os preços médios recebidos pelos produtores catarinenses de trigo permaneceram estáveis em relação ao mês anterior. Na comparação anual, em termos nominais, a variação é negativa. Os preços recebidos em abril deste ano estão 21,31% menores do que os registrados no mesmo mês de 2023. Para a próxima safra (2024/25), que começa a ser plantada no Estado a partir da segunda quinzena de maio, os custos de produção e as previsões climáticas devem influenciar a decisão dos produtores. Para a safra 2024/25, o custo referencial estimado, levantado pela Epagri/Cepa, está em R$4.898,92 por hectare, uma diminuição de 4,21% em relação aos custos referenciais estimados na safra anterior.

Bovinos - Na primeira quinzena de maio, o preço médio estadual da arroba do boi gordo manteve-se praticamente inalterado em relação ao valor registrado no mês anterior, com variação de apenas -0,01%. Quando se leva em consideração o valor recebido pelos produtores em maio de 2023, verifica-se queda de 16,0%. Os preços de atacado da carne bovina apresentaram variações distintas, de acordo com o tipo de corte: alta de 0,8% na carne de dianteiro e queda de 0,9% na carne de traseiro em comparação com o mês anterior. Conforme demonstram os dados da Cidasc sistematizados pela Epagri/Cepa e disponíveis no site do Observatório Agro Catarinense, de janeiro a abril deste ano foram produzidos e abatidos, no Estado, 211,4 mil cabeças, crescimento de 7,3% em relação aos abates do primeiro quadrimestre de 2023.

Frangos - Em abril, Santa Catarina exportou 104 mil toneladas de carne de frango (in natura e industrializada), altas de 10% em relação aos embarques do mês anterior e de 19,7% na comparação com os de abril de 2023. As receitas foram de US$ 200,7 milhões, crescimentos de 11,9% em relação às do mês anterior e de 9,2% na comparação com as de abril de 2023. No acumulado do primeiro quadrimestre, Santa Catarina exportou 381,5 mil toneladas, com receitas de US$ 722 milhões, alta de 4,2% em quantidade, mas queda de 8,1% em receitas, na comparação com os valores do mesmo período do ano passado. O Estado foi responsável por 24,3% das receitas geradas pelas exportações brasileiras de carne de frango nos quatro primeiros meses do ano.

Suínos - Santa Catarina exportou 60,5 mil toneladas de carne suína (in natura, industrializada e miúdos) em abril, altas de 14,0% em relação ao montante do mês anterior e de 7,1% na comparação com os embarques de abril de 2023. As receitas foram de US$ 138,7 milhões, alta de 18,1% na comparação com às do mês anterior, mas queda de 2% em relação às de abril de 2023. No acumulado do primeiro quadrimestre, o Estado exportou 221,2 mil toneladas de carne suína, com receitas de US$ 492,2 milhões, alta de 7,1% em quantidade, mas queda de 2,3% em receitas, em relação às do mesmo período de 2023. Santa Catarina respondeu por 59,7% das receitas e por 57,6% do volume de carne suína exportada pelo Brasil neste ano.

Alho - Em abril, o Brasil importou 16,35 mil toneladas de alho, quantidade 48,36% maior do que no mesmo mês do ano passado. O preço médio (FOB) do alho importado foi de US$1,47 o quilo, aumento de 13,95% em relação ao preço médio registrado no mês de março. Os principais países fornecedores da hortaliça, no mês de abril, foram a Argentina (com 88,08% de participação no total importado) e a China (que forneceu 11,85% do total). No mesmo mês, o preço médio pago ao produtor catarinense foi de R$13,00 por quilo para o alho classes 2-3 (aumento de 6,47% em relação ao mês anterior), R$18,00 por quilo para os alhos classes 4-5 (aumento de 20,64%) e de R$ 18,20 por quilo para os alhos classes 6-7 (redução de 12,31% em relação ao mês de março).

Cebola - Na Ceagesp/SP, em abril, o preço médio do quilo da cebola nacional ficou em R$6,32 por quilo, aumento de 1,44% em relação ao preço do início de março, quando foi de R$6,23 por quilo. A oferta interna de produto nacional continua baixa, o que manteve as cotações elevadas durante todo o mês. O preço médio pago aos produtores catarinenses, em abril, foi de R$4,87 por quilo, aumento de 27,48% em relação ao preço médio de março, que foi de R$3,82. As importações, no primeiro quadrimestre de 2024, ultrapassam 160 mil toneladas, sendo que 50% do volume foi comercializada no mês de abril. O principal país fornecedor foi a Argentina, com 64,26 mil toneladas, equivalente a 76,80% do total importado; em segundo lugar ficou o Chile, que vendeu 15,70 mil toneladas de cebola ao Brasil, 18,76% do total.

Banana - O mercado da banana em Santa Catarina, entre janeiro e fevereiro, apresentou desvalorização nos preços com o aumento nacional da oferta da fruta devido às altas temperaturas e maior maturação dos cachos nos bananais. No primeiro quadrimestre, as exportações brasileiras apresentaram redução de 61,3% no volume, em relação ao mesmo período do ano anterior. No mesmo período, Santa Catarina reduziu 60,7% o volume exportado de banana, que passou de 14,2 mil toneladas, em 2023, para 5,6 mil toneladas no mesmo período de 2024. O valor negociado no período apresentou redução de 61,9%: passou de US$5,76 milhões para US$2,16 milhões.


As informações são do Epagri/SC.