A tragédia no Rio Grande do Sul pode ter consequências significativas para o agronegócio e a economia nacional
23-05-2024 14:49:59 Por: CILeite. Foto: Pixabay
A tragédia no Rio Grande do Sul, marcada por enchentes e tempestades severas, pode ter consequências significativas para o agronegócio e a economia nacional, já que o estado tem peso de 12,5% no PIB do agro e participação de 6,5% no PIB nacional. Na pecuária de leite, a inundação de pastagens e instalações e a morte dos animais causam prejuízos diretos aos produtores com a destruição de patrimônio e o aumento das despesas de recuperação dos ativos.
Além disso, o fechamento de estradas e a queda de pontes agrava o quadro dos produtores com a diminuição da sua renda devido à perda da produção do leite e à queda de produtividade, afetada pela precariedade da logística para obter alimento para o rebanho e escoamento da produção. Essa situação do RS afeta toda a cadeia produtiva do leite no Brasil, já que o estado responde por 13% da produção nacional e exporta para outros estados quase 50% de sua produção. O setor indústria também tem sido bastante afetado seja pela dificuldade na operação de suprimento ou pelo abastecimento das redes de varejo e escoamento dos produtos.
No mercado internacional, os preços das commodities lácteas tiveram pequenas valorizações nos últimos leilões GDT. O preço da manteiga escalou entre novembro de 2023 e fevereiro deste ano e estabilizou-se próximo a US$6.500/tonelada, o que é historicamente elevado. A produção mundial caiu 1,24% em fevereiro, sendo o sétimo mês consecutivo de queda. Desestimulados com a implementação de regulamentações ambientais e com os baixos preços das commodities, os produtores europeus vêm reduzindo a produção desde setembro de 2023, e responderam também com vários protestos no começo de 2024. A previsão para a Nova Zelândia é de desempenho ainda modesto, mas as últimas remarcações altistas para os preços ao produtor podem ajudar no início da próxima safra. No caso do Brasil, houve crescimento de 3,2% a captação de leite no primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE.
Os indicadores macroeconômicos brasileiros são favoráveis ao crescimento do consumo de lácteos e para o PIB no curto prazo. As previsões do PIB têm mostrado sucessivas revisões para cima, com crescimento previsto entre 2% e 2,5% para 2024. A renda média per capita está em recuperação, com melhoria da massa real de rendimentos. A inflação sob controle permite redução da perda do poder de compra dos consumidores e o mercado de trabalho vem mostrando bons indicadores em relação a emprego. Dessa forma, o comércio acumula em 12 meses um crescimento de 2% em seu volume de vendas. Os supermercados tem apresentado resultado superior, com expansão de 4,5% em 12 meses.
As importações de leite e derivados que começaram o ano em desaceleração, voltaram a crescer em abril e acumulam variação positiva de 16% no primeiro quadrimestre de 2024, em relação ao mesmo período de 2023. Já o crescimento das exportações foi expressivo, acumulando no mesmo período 56% de alta, mas com volumes modestos. O saldo da balança comercial de lácteos ficou negativo em 708 milhões de litros no período. A captação de leite continua aumentando no país, com o acumulado em 12 meses até março subindo 3,2% segundo dados preliminares do IBGE.
Os preços dos lácteos no varejo tiveram alta de 0,94% em abril. O leite longa vida e o leite em pó sofreram reajustes nos últimos quatro meses elevando os preços deste grupo de alimentos. Os queijos, por sua vez, também tiveram variação positiva, mas abaixo da observada no IPCA, ajudando a conter o indicador. O aumento do preço do leite spot em Minas Gerais na última quinzena foi expressivo, de 18% refletindo o momento de entressafra e menor disponibilidade interna de leite, ainda que as importações continuem elevadas. Os mercados de leite UHT e queijo muçarela indicaram altas importantes também nas últimas semanas. Neste sentido, a tendência é que os preços ao produtor sigam também com valorização no curto prazo.
No caso do custo de produção do leite, o mês de abril registrou nova queda, de 1,5%. No primeiro quadrimestre a queda é de 4,8% e na comparação anual, o recuo atingiu 5,6%. Portanto, um cenário de curto prazo melhor para o pecuarista, com alta no preço do leite e recuo no custo de produção.No entanto, o momento sugere atenção em função dos impactos negativos das enchentes no RS sobre o setor lácteo e outros setores do agronegócio, inclusive aqueles que impactam o custo de produção de leite.
As informações são do CILeite.