Não é parmesão. É Queijo Artesanal Alagoa!

20-02-2020 09:25:49 Por: Osvaldo Martins de Barros Filho

Não é parmesão. É Queijo Artesanal Alagoa!
Nesta terça-feira, 18 de fevereiro de 2020, Alagoa - Terra do Queijo - foi palco de um importantíssimo encontro de instituições com produtores de queijo para a entrega dos estudos de Caracterização e Boletim de Pesquisa do Queijo Artesanal Alagoa realizados pela Embrapa Gado de Leite e Emater-MG. Preparei uma retrospectiva destes últimos 10 anos para compartilhar com os presentes na cerimônia. Confira na íntegra:

“Não parmesão. É Queijo Artesanal Alagoa!” Perdi a conta de quantas vezes falei esta frase desde 2010. Confesso que antigamente eu também chamava o nosso queijo artesanal de queijo parmesão. Cresci aqui em Alagoa ouvindo que era parmesão!

Todos já devem saber, mas não custa nada relembrar, comecei a trabalhar com queijo em 2009 para ajudar o Sô Batistinha do Rio Acima a escoar a sua produção. Na época a pessoa que comprava o queijo dele estava pagando uma merreca e ainda tinha a audácia de dar um cheque para 40 dias. Aquilo me incomodou profundamente e me fez entrar no universo do queijo. Honrando a tradição da família, meu bisavô Jeremias Sene era tropeiro e levava queijos daqui para vender no Vale do Paraíba e, por vezes, em Resende-RJ.

A primeira vez que ouvi que nosso queijo não era parmesão foi no ano de 2010 e quase tive um treco. Como assim, não é parmesão?

E o Bruno Cabral, um chef paulista que conheci pela internet, me explicou, no estacionamento do Habibs, na Av. Inajar de Souza em São Paulo. Eu tinha vendido queijo pra ele e marquei de encontrar lá para fazer a entrega, sabe como é, né? Mineiro é ressabiado que só.

Lembro-me que ele me falou: “Este queijo não é parmesão nem aqui nem na China. É um baita queijo artesanal brasileiro”. Passei a pesquisar sobre queijo artesanal, encontrei um pouco de informações vindas da Serra da Canastra e do Serro.

Desde então nasceu uma inquietude para buscar a Certificação do Queijo Artesanal Alagoa. Numa ocasião, conversei sobre isso com o André, durante um almoço da AMAG em São Lourenço. Ele trabalha no Escritório da EMATER de Caxambu, mas tem terras em Alagoa, então o assunto foi sobre o queijo, sobre não ser parmesão, sobre ter que fazer uma pesquisa pra comprovar isso. Daí o André me deu o caminho das pedras: EMBRAPA Gado Leite de Juiz de Fora.

No dia 24 de Novembro de 2010 enviei um e-mail pra ele solicitando o contato da pesquisadora da EMBRAPA. Com a resposta, no dia seguinte enviei um e-mail para a Fatinha, que foi super atenciosa e abraçou a ideia logo de cara. 

Em 2011 tivemos as chuvas e o a conversa continuou em 2012. Em junho tentamos fazer um diagnóstico do leite em parceria com o PSF. Muitos produtores não responderam as 10 perguntas feitas, queríamos apenas saber quantos produtores de queijo Alagoa tinha, quantos kg produzíamos por dia, informações básicas para iniciar o projeto, mas por enquanto, sem sucesso.

Ainda em 2012 o modo de fazer o queijo foi tombado como patrimônio municipal histórico cultural, na categoria bem imaterial, pela Secretaria Municipal de Cultura.

No dia 22 de Fevereiro de 2013, conseguimos mobilizar 30 produtores para participaram de um Encontro para começarmos a discussão sobre a Qualidade do Queijo e a importância da certificação.

Durante o ano de 2013 fizemos contato com o SEBRAE e o INPI para a realização de um seminário para tratar o tema.

Enquanto a Embrapa necessitava de recursos para iniciar o projeto de Pesquisa, a EMATER realizou um árduo trabalho de caracterização em 2014. Aqui destaco a participação do Átila e sua equipe da EMATER com o apoio do Júlio do Escritório Local de Alagoa que durante uma semana inteira percorreram diversos bairros de Alagoa e coletaram amostras de leite, de água, solo e de queijo. O trabalho ficou muito bom, todavia, quando encaminhado para o IMA, houve uma distorção na hora da publicação da portaria 1.453 de Dezembro de 2014, saindo errado: Queijo Tipo-Parmesão no modo artesanal de fazer da região de Alagoa. A região incorporava os municípios de Aiuruoca, Baependi, Bocaina de Minas, Itamonte e Pouso Alto.

Foi um tremendo trabalho no sentido de avanço, mas oficializou um retrocesso. Todavia, em 2015 a EMBRAPA conseguiu os recursos para iniciar o novo projeto de caracterização.

No dia 13 de setembro de 2017 o Prefeito Juliano esteve na SEAPA com o Secretário Pedro Leitão, para tratar da Certificação. Aproveito a oportunidade para destacar a atenção especial que a Administração 2017/2020 tem dado ao produtor rural!

Repito: A atual gestão da Prefeitura Municipal, Administração 2017/2020, desde seu primeiro dia de governo tem colocado o produtor rural como foco de sua gestão desencadeando diversas ações que beneficiam o homem do campo. Iniciando com uma reestruturação e ampliação da Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente. Destinando os maquinários e equipamentos da Secretaria de Obras ao atendimento rural. Mantendo o contrato da Prefeitura com a Emater, para continuidade do Escritório Local. Alocando mais funcionários, como auxiliar de veterinário e engenheiro agrônomo para dar atendimento e suporte aos produtores. Adquirindo motos 0km para facilitar e agilizar o atendimento. Destinando 1 carro exclusivo para a Secretaria. Implantando também o Serviço de Inspeção Municipal. Em parceria com o SENAR dezenas de cursos estão sendo ministrados todo semestre. A Prefeitura vem apoiando todas ações da AproAlagoa, inclusive cedendo estrutura física pra sede da mesma, e sempre empregando esforços para atender as demandas rurais. Registro aqui parabéns ao Prefeito Juliano.

Ainda em 2017 Alagoa ganhou projeção internacional com o prêmio na França. Chegamos onde nunca imaginávamos que chegaríamos. Os últimos anos tem sido de grandes avanços. O Serviço de Inspeção Municipal foi instituído e está em funcionamento. A AproAlagoa foi criada ano passado e visa fortalecer o cooperativismo e união dos produtores. E o melhor: temos notado melhoria na qualidade de vida dos produtores, isso por si só já é muito gratificante. Conseguimos agregar mais valor ao queijo. Tudo isso movimenta a economia da cidade. Fomenta o turismo.  Alagoa tem orgulho de ser conhecida como terra do queijo, e creio que cada um aqui orgulha-se por fazer parte desta conquista na data de hoje.

Só nos resta agradecer a Deus por nos proporcionar alcançarmos este momento com vida. Agradecer a todas instituições: Prefeitura de Alagoa, AproAlagoa, Governo de Minas, Seapa, Emater, IMA, Epamig, Governo Federal, Ministério da Agricultura, SEBRAE. As instituições só existem por que pessoas trabalham por ela e fazem ela acontecer. Então registro meus sinceros agradecimentos a todos que se empenharam e abraçaram esta causa. Não vou nominar individualmente para não correr o risco de esquecer alguém, pois realmente somente com o trabalho conjunto de várias pessoas foi possível consolidarmos este resultado maravilhoso!

Termino com uma das minhas #frasesqueijísticas prediletas que tem sido meu lema de vida: Vamo que vamo! Fé em Deus e Queijo na tábua! Ao infinito e além!

Imensamente gradicido.

* Osvaldo Martins de Barros Filho é de Alagoa/MG, empreendedor mineiro na Queijo d’Alagoa-MG, pioneiro na venda de queijo pela internet, bacharel em Direito, palestrante, Secretário da Comissão do Queijo Artesanal da ABRALEITE e mebro da Comissão Técnica do Queijo Artesanal na FAEMG; escreve ao GUIALAT e ao Portal do Queijo mensalmente.

Colunista

Osvaldo Martins de Barros Filho

Osvaldo Filho é fundador da Queijo D’Alagoa-MG, palestrante, colunista do GuiaLat e Portal do Queijo.