De olho na saúde, consumidor compra mais bebidas funcionais

11-01-2022 11:02:23 Por: Raquel Brandão, Valor Econômico

De olho na saúde, consumidor compra mais bebidas funcionais
Nos quase dois anos convivendo com a covid-19, boa parte dos brasileiros mudou não apenas a forma de trabalhar, mas também a de abastecer a despensa. Buscando saúde e bem-estar, o consumidor comprou, ou quer comprar, mais bebidas funcionais. Em linhas gerais, bebida funcional é um produto não alcoólico, com ingredientes que cumprem papéis específicos. Pode ser um suco rico em vitaminas e minerais, um leite com maior índice de proteína ou um café com mais cafeína. O consumidor bebe para melhorar a imunidade ou ter uma dose extra de energia, por exemplo.

Esse mercado movimentou US$ 130,5 bilhões no mundo em 2021, segundo a consultoria Business Research Company, 7,7% mais do que em 2020. A perspectiva é de que as vendas cheguem a US$ 173,2 bilhões em 2025.

Outro estudo, com dados do mercado brasileiro, mostra que essa demanda é crescente. Segundo a nova edição da pesquisa anual de tendências feita empresa de embalagens para alimentos e bebidas Tetra Pak, em que 2.300 brasileiros foram ouvidos, mais da metade (58%) aumentou o consumo de produtos que reforçam o sistema imunológico, outros 39% desejam fazer isso. E quase 60% manterão o volume de compra de produtos funcionais. “Essa tendência por produtos mais funcionais vinha acontecendo, mas foi intensificada pelo cenário da covid, principalmente a busca por alimentos de imunidade”, diz Vivian Leite, diretora de marketing da Tetra Pak.

Quando se trata de bebidas funcionais, diz a executiva, o grande destaque é o suco. Na pesquisa, sucos foram os mais citados entre as preferências, com 50% das respostas, produtos lácteos fermentados tiveram 37% e 31% citaram bebidas lácteas com alto valor de proteína, vitaminas e/ou cálcio.

Para os respondentes da pesquisa, o produto ideal para aumentar a imunidade deve ser: enriquecido com vitaminas, frutas cítricas, mel, zinco, fibras; livre de ingredientes artificiais; e causar sensação de energia. “O consumidor já tem uma noção boa do que pode trazer mais imunidade”, diz a diretora. Ela observa, no entanto, que o maior desafio é conseguir transmitir essas informações no rótulo do produto, cuja clareza foi um dos pontos citados como essenciais em um produto ideal.

A Tetra Pak não divulga resultados no Brasil. Em 2020, a operação global faturou 10,8 bilhões de euros. Os números de 2021 ainda não foram publicados pela companhia. A operação brasileira (segunda maior do grupo, atrás apenas da China) registrou em 2021 recuperação de algumas categorias, vendendo mais embalagens para sucos e água de coco, que foram produtos muito afetados durante 2020, disse a diretora.

Leites, que tinham crescido fortemente durante o primeiro ano da pandemia, agora têm leve retração. “Começamos a ver alguma queda, muito ligada a questão de preços, que subiram.”

Bebidas das categorias não tradicionais vêm registrando forte expansão. A projeção, de acordo com a executiva, é de que as vendas de bebidas vegetais e bebidas protéicas tenham crescido 9,8% e 15,7%, respectivamente, em 2021.

De olho nessa demanda, a marca de cafés em cápsula Nescafé Dolce Gusto, da Nestlé, está ampliando seu portfólio de bebidas funcionais, naturais e veganas. “Hoje, ao menos 25% do catálogo (que tem 36 itens) têm essas características. “Dos nossos projetos de inovação, 50% estão nessa linha. São grandes volumes? Não, mas crescem muito mais. Hoje é muito mais interessante trazer um chá funcional ou café com dupla cafeína”, afirma Tiago Buischi, gerente executivo de marketing de Nescafé Dolce Gusto.

A Nestlé incluiu no catálogo as cápsulas Double Shot, com duas vezes mais cafeína, e chás funcionais da Nature Heart’s, como o ‘Zen Style’, que combina chá de camomila, maracujá e chá branco, ou o ‘Power Tea’, de chá verde, abacaxi e gengibre.

De acordo com Buischi, chás funcionais são a segunda opção mais pedida pelos clientes em pesquisas da empresa. Bebidas energéticas também estavam entre as cinco mais votadas. “Ainda representa pouco das vendas, mas cresce três vezes mais do que os cafés comuns do portfólio.”

A marca Dolce Gusto tem dois novos sabores na linha de funcionais e naturais a serem lançadas no primeiro semestre. A Nestlé estuda, para o futuro, opções de bebidas protéicas em cápsula para serem feitas nas máquinas da Dolce Gusto.

A Nestlé também não divulga dados específicos da operação nacional, tampouco exclusivos da Dolce Gusto, mas em seu relatório de resultados de janeiro a setembro aponta que as vendas da marca de cápsulas registraram crescimento de dois dígitos na América Latina. No período, o bloco de países das Américas teve 24,6 bilhões de francos suíços em vendas, cerca de 40% das vendas totais da Nestlé, que somaram 63,3 bilhões de francos suíços.

Os custos elevados, porém, dificultam um avanço mais célere desses produtos, cujos preços tendem a ser mais elevados que de bebidas comuns. A startup One More, que produz uma ‘bebida balanceadora’ a base de colina (vitamina do complexo B relacionada ao desempenho cerebral, sistema nervoso e memória), esperava que o faturamento de R$ 1 milhão em 2020 saltasse para R$ 10 milhões em 2021. Não deu. “Ficou um pouco abaixo”, conta Arthur Guimil, um dos fundadores da empresa. Ele não revela o valor, mas espera que neste ano a receita seja quatro vezes maior. “Os incrementos de custo de matéria-prima foram muito significativos e a pandemia complicou, pois, alguns pontos de venda foram mais conservadores para novos produtos”, disse Guimil.

Na metade do ano passado, a empresa de investimentos da família Bauducco, fabricante de panetones, pães e biscoitos, comprou 20% do capital social da One More. Agora, o quadro societário ganhou mais um nome, o da apresentadora Sabrina Sato, que deverá ajudar a tornar o produto mais conhecido. A empresa não diz a participação de Sabrina tampouco o investimento feito.

“Vai ser um ano em que vamos mirar expansão nacional”, diz Guimil, citando a distribuição da bebida em mais Estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Piauí. “Saudabilidade pode ser força contrária ao impacto da pressão inflacionária sobre a demanda.” O produto, que hoje está apenas no sabor de cranberry (arando), vai ganhar um novo sabor ainda este ano e formatos de assinatura de pacotes com latas para vendas no varejo on-line já estão sendo ofertados. “Tem um potencial de receita ainda maior e gera recorrência.”

As informações são do Valor Econômico.