Ampliação do vazio sanitário da soja desagrada parte dos produtores
07-02-2022 09:29:50 Por: Michelle Valverde, Diário do Comércio
A decisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em ampliar o período de vazio sanitário da soja na safra 2022/23 deixou parte dos produtores insatisfeitos. Em Minas Gerais, desde 2019, a medida, que é considerada essencial para uma boa produção de soja, durava 77 dias, permitindo a antecipação do plantio em áreas irrigadas. Com o intervalo exigido passando para 90 dias, esta antecipação não acontecerá.
A mudança do tempo de duração do vazio sanitário da soja, em 2022, foi anunciada na última semana através da Portaria nº 516 do Mapa. Foi estabelecido o aumento do período de 60 dias para 90 dias e que deverá ser seguido por 21 estados produtores do País. Até o ano passado, a medida era adotada em 14 estados.
Segundo os dados do Mapa, durante a vigência do vazio sanitário fica proibido o plantio e a manutenção de plantas de soja em qualquer fase de desenvolvimento na área determinada. O objetivo é reduzir ao máximo possível o inóculo do fungo Phakopsora pachyrhizi, que provoca a ferrugem asiática da soja, minimizando os impactos negativos durante a safra seguinte. No Estado, o período irá de 1º de julho a 30 de setembro.
O analista de Agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra, explica que, em 2019, depois de muitos estudos, foi estabelecido que em Minas Gerais o vazio de 77 dias era suficiente para o controle da ferrugem asiática.
“Segundo especialistas e estudos, o vazio sanitário do dia 1º de julho até meados de setembro, somando 77 dias, era mais que suficiente para o controle no Estado. O vazio tem a função de quebrar o ciclo do fungo da ferrugem asiática da soja, o que gera menor pressão de inóculo na safra e, com isso, o produtor tem menos gastos com defensivos e fungicidas, produto este que está entre os mais caros na composição dos custos de produção”, explicou.
Ainda segundo Coimbra, a adoção do vazio é ótima para o produtor e importante para a redução de custos, do uso de agroquímicos, de inóculos e também para o aumento de produtividade, já que, com a menor possibilidade de patógenos, se tem menos perdas. Quando segue a cadeia de valor, os impactos do vazio e de uma produção melhor geram mais dinheiro, mais investimentos e empregos.
Com o aumento da duração do vazio sanitário, produtores que possuem pivô e costumam antecipar o plantio da soja serão prejudicados. O plantio antecipado permitia a chegada da soja ao mercado em um período de menor oferta, o que poderia garantir melhores preços. Com a antecipação da primeira safra também era possível adiantar o plantio da segunda.
“O vazio é positivo, mas o aumento do prazo julgamos desnecessário já que vários técnicos, da Embrapa e de universidades, recomendam menos. Não é necessário este tempo todo. O produtor de soja que tem pivô e quer plantar em setembro para colher mais cedo não pode. Vai ter que esperar até o primeiro dia de outubro. Apesar de um número pequeno de sojicultores, eles serão prejudicados”, disse.
Produção de soja 2021/2022 - Para a safra atual, a última previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta para uma pequena redução do volume a ser colhido em Minas Gerais. A estimativa, divulgada com base em análises de campo feitas em dezembro, indica a colheita de 6,96 milhões de toneladas, 0,8% menor que em 2020/21.
A área plantada no Estado com a oleaginosa cresceu 1,7%, chegando a 1,9 milhão de hectares. Já a produtividade tende a cair 2,5%, com rendimento de 3,6 toneladas por hectare.
De acordo com o analista de Agronegócio da Faemg, a queda se deve ao clima. Apesar do volume de chuvas abundante, as condições da safra anterior foram melhores. Ainda há expectativa de uma revisão para baixo dos números, já que as fortes chuvas que afetaram Minas Gerais em janeiro impactaram de forma negativa o manejo das lavouras.
“Acreditamos que haverá uma queda na safra de soja, não muito significativa, mas maior que o 0,8% previsto pela Conab no último levantamento. Recebemos muitos relatos de dificuldades de aplicação dos agroquímicos devido a dificuldades de entrar nas lavouras em função das chuvas. Isso torna o controle de pragas e doenças mais difícil e pode haver perdas”, explicou.
As informações são do Diário do Comércio.