Mastite bovina: saiba o que é e porque controlá-la

08-04-2022 10:51:16 Por: Somaticell

Mastite bovina: saiba o que é e porque controlá-la
No contexto agropecuário, mais especificamente no contexto da cadeia de produção leiteira, com o aumento da exigência nos padrões de qualidade do leite, um problema muito comum e que os profissionais da área precisam levar em consideração é a mastite bovina. Essa condição pode trazer diversos prejuízos para toda a cadeia de produção do leite. Assim como para as vacas leiteiras, que têm sua saúde comprometida, afetando a sua capacidade de produção e a qualidade do leite. Desse modo, pensar em maneiras de controlar esse problema, visando o aumento da lucratividade e a sustentabilidade do negócio, se torna indispensável para os produtores leiteiros e empresários do ramo.

Neste artigo, destacamos algumas informações sobre a mastite bovina, como o que é, quais são os tipos e causas, porque e como controlá-la.

O que é mastite bovina?

A mastite bovina é um processo inflamatório e infeccioso, muito comum que acontece na glândula mamária do animal. Ele traz grandes prejuízos para a qualidade do leite e uma redução significativa na capacidade de produção do animal. As vacas que contraem a infecção ficam debilitadas e se não tratadas prontamente podem até mesmo ir a óbito. Mas o caso mais grave é a mastite subclínica, pois além de não ser detectável sem os indicadores adequados, ajuda a espalhar a doença pelo rebanho.

A mastite, ou mamite, como também a conhecemos, tem como causadores os microrganismos e suas toxinas, agentes químicos irritantes e traumas físicos.

Contudo, a causa mais comum e que acomete uma parte significativa do rebanho bovino são os microrganismos patogênicos. Eles chegam ao animal pelo canal da mama. Assim, a inflamação que acontece na glândula mamária é uma reação do organismo tentando combater os microrganismos infecciosos para tentar retomar as funções normais do animal.

Todavia, esse processo pode causar outros prejuízos ao animal. Só para ilustrar: a destruição de células epiteliais que são responsáveis pela síntese de elementos fundamentais para a qualidade do leite, como a lactose e a caseína, ocasionando até mesmo o descarte do leite, que estará comprometido em sua composição e qualidade, por causa da infecção.

Quais são as causas e os tipos de mastite bovina?

Alguns fatores que podem causar a infecção são os microrganismos no ambiente, microrganismos contagiosos patogênicos, algas, levedura, entre outros.

Em alguns casos é possível identificar a infecção através de alterações no leite ou de sintomas que o animal apresenta. Considera-se essa forma de mastite como mastite clínica.

A sintomatologia pode variar dependendo do microrganismo envolvido no processo inflamatório. A mastite clínica pode se apresentar como aguda ou hiperaguda. As causas mais comuns são as contaminações do teto por bactérias infecciosas, como cepas de Staphylococcus aureus, entre outras, que apresentam maior resistência aos tratamentos.

A mastite clínica é a forma mais perceptível da doença. Pode-se identificá-la por alterações no animal como febre, dor, vermelhidão, ou pelo leite produzido que pode apresentar modificações como o pus ou através de testes na hora da ordenha. Apesar da fácil detecção, esse tipo de mastite não é a mais prejudicial para os produtores de leite. É aí que entra a mastite subclínica, que é a apresentação mais comum da doença, sendo de difícil detecção por não apresentar alterações visíveis, como no caso da mastite clínica.

A infecção subclínica acomete o rebanho em um nível muito maior do que a mastite clínica, pois como ela é silenciosa e assintomática, se torna necessário realizar rotineiramente a contagem de células somáticas (CCS) para identificar corretamente essa infecção.

Microrganismos contagiosos x Microrganismo ambientais

A mastite bovina pode se desenvolver por microrganismos contagiosos ou por microrganismos ambientais. As infecções por microrganismos contagiosos são frequentemente vistas na categoria de mastite subclínica e pode manifestar muitas vezes uma condição crônica da doença.

Uma característica típica de rebanhos que possuem a mastite contagiosa é o aumento significativo na contagem de células somáticas (CCS).

Além disso, o contágio se dá principalmente através das ferramentas de ordenha, assim como pela própria contaminação do leite. Alguns dos principais microrganismos contagiosos são:

• Staphylococcus aureus;
• Streptococcus agalactiae;
• Streptococcus dysgalactiae;
• Mycoplasma bovis.

Já os microrganismos ambientais, são vistos no ambiente onde o rebanho se insere. Como por exemplo, na água ou nas fezes. Alguns dos principais microrganismos ambientais são:

• Escherichia coli;
• Streptococcus uberis;
• Pseudomonas aeruginosa.

Cada microrganismo tem seu nível de resistência ao tratamento e aos antibióticos, que precisam ser administrados de maneira específica a cada tipo.

Por que controlar a mastite bovina?

O controle da mastite bovina é essencial para a cadeia de produção leiteira, pois ajuda a manter a qualidade do leite e influencia na capacidade produtiva da vaca. Além disso, os prejuízos associados à má gestão da mastite bovina em rebanhos são grandes, principalmente porque a doença é altamente contagiosa e pode comprometer vários animais do rebanho, chegando mesmo a níveis de 80% do mesmo. Se a mastite bovina não for identificada e controlada a tempo, pode afetar toda a produção, levando até mesmo ao descarte do leite que estará contaminado e portanto, inutilizável.

E uma vez que o rebanho está debilitado, a cadeia de produção fica reduzida, o produtor de leite terá que assumir gastos com medicamentos como antibióticos para o tratamento da infecção e, em casos mais graves, a doença poderá levar ao descarte dos animais. Lembrando também que o maior custo do processo é justamente o descarte do leite dos animais em tratamento!

Por isso, realizar o diagnóstico e identificar a fonte da infecção, assim como adotar boas práticas de produção com o rebanho para evitar a contaminação é indispensável para manter o controle da mastite bovina. Existem diversos tipos de diagnóstico, entretanto, o diagnóstico feito através da contagem de células somáticas (CCS) é um dos métodos mais eficazes e que pode ser feito de maneira simplificada, coletando uma quantidade grande de amostras, diminuindo os custos para testagem e aumentando o alcance para a identificação mais rápidas das vacas contaminadas.

A contagem das células somáticas é um fator determinante para detectar a mastite bovina, pois quando as vacas leiteiras produzem um alto número de células somáticas, além do que é considerado normal, a infecção é quase certa!

Um valor de referência para indicar uma quantidade regular de células somáticas em uma vaca varia entre 50 mil e 200 mil por ml. Quando este valor está acima do considerado normal (mais de 250.000) pode significar que o animal já está contaminado. Estes valores são os utilizados na Europa e Estados Unidos como parâmetros para vacas sadias produtoras de leite.

Boas práticas para controlar a mastite bovina em vacas leiteiras

Pensar em boas práticas que ajudem a controlar a propagação da mastite bovina entre rebanhos de vacas leiteiras é essencial, pois disso vai depender o seu custo para a produção de leite.

Essas práticas envolvem a adequação nos processos de ordenha, que vão desde a adaptação do ambiente e o treinamento dos colaboradores para um melhor gerenciamento de condução do rebanho, a preparação para a ordenha com práticas de pré dipping e pós dipping, testes de rotina para a detecção de mastite, e o monitoramento e tratamento adequados dos casos positivos para a enfermidade, entre outros.

Destacamos então algumas dessas práticas, mais detalhadamente, para auxiliar os produtores a lidarem com essa condição tão comum no contexto da produção de leite. Confira:

1. Adaptação do ambiente: O ambiente onde se mantém o rebanho é um elemento essencial para a prevenção de infecções. Então, evitar que o local onde as vacas leiteiras estão esteja úmido e sujo é fundamental.

Dessa forma, para prevenir a contaminação do rebanho e evitar a proliferação de microrganismos ambientais é necessário garantir que o rebanho esteja em um ambiente limpo, seco e com uma boa circulação de ar.

2. Educação dos ordenhadores sobre os cuidados nos procedimentos: Outro ponto importante para controlar a mastite bovina é a capacitação dos profissionais da área para que adotem boas práticas no processo de ordenha, tanto nas etapas anteriores quanto nas posteriores ao processo.

Quanto melhor preparados para adotar práticas preventivas estiverem os profissionais, mais fácil, e com menores custos, será o controle de surtos de mastite bovina.

3. Gerenciamento adequado do processo de ordenha (predipping e posdipping): Todo o gerenciamento do processo de ordenha deve ser feito de maneira correta. Os procedimentos vão desde a condução do rebanho e a preparação e a execução da ordenha, até após o processo de ordenha, sendo necessário tomar cuidados para evitar a contaminação das vacas. O rebanho deve ser conduzido de maneira calma, evitando estresses que possam prejudicar o processo de ordenha.

Além disso, antes de iniciar a ordenha, é necessário realizar procedimentos para verificar a presença de mastite clínica. Isto é, através da avaliação da qualidade do leite, identificando se há alterações nos primeiros jatos de cada teto. Esse teste é chamado de teste da caneca telada, onde o ordenhador deverá depositar os primeiros jatos de cada teta em um recipiente de fundo escuro.

A desinfecção das tetas antes da ordenha (pré dipping), também é um procedimento fundamental na ordenha e deve ser feito cuidadosamente para evitar a proliferação de microrganismos ambientais. O produtor deve lavar as tetas e utilizar um sanitizante aprovado. Após a lavagem deve-se secar com cuidado com papel toalha, ou outro método aprovado, e prosseguir para a ordenha, é preciso conduzi-la sem interrupções e com calma.

É preciso levar em consideração os cuidados após a ordenha também. O processo feito chama-se de pós dipping e consiste em uma desinfecção dos tetos após a ordenha, aplicando-se um desinfetante imediatamente após o processo, para evitar o desenvolvimento de microrganismos contagiosos e a mastite subclínica.

Outro fator relevante é o cuidado com os equipamentos de ordenha, que devem ser devidamente higienizados e passar por manutenções frequentes para evitar a propagação de infecções. Portanto estes procedimentos de limpeza e desinfecção devem ser validados para assegurar que efetivamente funcionam.

4. Terapia da vaca seca: A terapia da vaca seca é um elemento preventivo muito importante no controle da mastite bovina. Trata-se de um procedimento realizado ao final do período de lactação das vacas que visa o tratamento de mastite subclínica e previne contra novas infecções durante esse período.

A utilização de antibióticos adequados é fundamental nessa terapia, assim como o cuidado no manejo das vacas nesses ciclos. Lembrando que é importante manter as vacas em locais corretos mesmo fora do período de lactação. Isso porque o ambiente limpo, arejado e seco diminui os riscos de infecção.

Sempre realize testes de resíduos de antibióticos no leite dessas vacas antes de liberar o mesmo para o tanque, porque muitas vezes o antibiótico pode durar mais tempo do que o declarado na bula, e este procedimento garantirá que você não sofra penalizações e evitará a mistura de leite contaminado com leite próprio para o consumo.

Controle e tratamento da mastite bovina

Conhecer o que é a mastite bovina, suas causas e seus tipos e entender a importância de manter um controle sobre esse tipo de infecção que é tão comum no contexto agropecuário é fundamental.

Entretanto, mais importante do que isso é absorver essas informações e saber utilizá-las na aplicação e na adoção de boas práticas para controlar a mastite bovina, de forma rotineira e permanente.

Por último, fazer o monitoramento e o controle de infecção por mastite bovina regularmente também é um procedimento essencial.

Como citado anteriormente, uma das melhores formas de fazer isso de maneira efetiva e ágil é através da contagem de células somáticas (CCS), que possibilitará uma análise mais abrangente e precisa da situação da doença no rebanho, e em cada um dos animais.

Além disso, é importante administrar tratamentos corretos para cada tipo de infecção e para cada ciclo da vaca (período seco ou período de lactação).

Em alguns casos é possível tratar a mastite naturalmente, sem a administração de medicamentos. O veterinário é o profissional adequado para indicar quais as melhores formas de tratar cada uma destas situações.

Em casos de mastite clínica, administrar os tratamentos em ciclos de lactação é mais eficaz. Enquanto que para tratamentos da mastite subclínica, o período seco é mais eficaz. Portanto, recomenda-se muito a terapia da vaca seca para todos os animais, pois tem o efeito corretivo e preventivo.

Assim, ao realizar a adaptação do ambiente, educar sua equipe de profissionais, fazer um gerenciamento de todo o processo de ordenha e entender e aplicar tratamentos apropriados para cada tipo de infecção, você estará aumentando a sanidade do seu rebanho, aumentando a produtividade, reduzindo custos e consequentemente a capacidade produtiva, a qualidade do leite das suas vacas leiteiras e a rentabilidade da produção de leite.

Colunista

Somaticell

Soluções para controle de qualidade de leite e alimentos.